Então parece que
estamos na Primavera! Tempo em que nos chove em cima enquanto cheira à
nostalgia dos tempos quentes. Esta fase deixa as pessoas confortavelmente molengas, em simultâneo com uma agitação típica de quem quer começar a aproveitar a
vida, a sério. No fundo, sou suspeita, gosto das estações todas e sou um bocado
como o António Variações. Quando está calor, apetecem-me os casacos e o frio no
nariz e quando está frio só gostava de me esparramar ao sol. No entanto, esta altura tem um ponto perfeito, que junta o melhor dos dois mundos...
Adoro os cheiros
das estações, de cada uma em particular. E é sempre bom viver pondo a uso todos
os sentidos. Há que sentir a Primavera, vê-la, cheirá-la, ouvi-la, saboreá-la e agarrá-la como se não houvesse amanhã. Não é à toa que certos exercícios de relaxamento insistem em deixarmo-nos
levar pelo mundo que criamos com todas as possibilidades da nossa imaginação.
Um treino imagético deste tipo, uma espécie de “happy place”, será
tão mais vívido e útil quanto mais atentarmos no que queremos ver, no que sentimos
na nossa pele, nos sons mais intensos e mais discretos que ouvimos e mesmo qual
o sabor do ar onde estamos. Por exemplo, quando estamos a idealizar um dia de
praia quente, é importante esforçarmo-nos para ver as cores bem nítidas dentro
de nós, areia, mar, céu, pessoas, branco, azul, verde, laranja. Sentirmos a
maresia pelo corpo todo, o ar salgado nos lábios, as ondas a espreguiçarem ao
fundo, o assobiar da brisa, as vozes ao longe, no vazio. Deixarmo-nos envolver
por todo um cenário que será tão realista quanto lhe permitirmos. Quanto mais
empenharmos os nossos sentidos no momento em que estamos, melhor conseguiremos enriquecer as nossas experiências com todos os pormenores deliciosos do quotidiano.
A Primavera é a altura de ir às gavetas repescar a boa disposição, os calções e o ânimo para as
músicas de verão. Embora algumas pessoas desanimem um pouco neste período, o
normal é vir associado a bem-estar. É comum sairmos mais e vermos tudo a florescer à
nossa volta, incluindo nós próprios. A felicidade vem “atrelada” a este bom
tempo mas isso não significa que devamos esperar que isso nos contagie magicamente.
Somos sempre responsáveis por nós. Se pretendemos que o nosso emprego seja de
outra forma, em vez de maldizer o chefe ou os colegas que não ajudam, será mais produtivo percebermos exactamente o que queremos e desconstruir
como o poderemos alcançar.
Se queremos ser felizes, só o conseguiremos se formos nós a entender o que encaminhará
para isso e como o colocar em prática. Isto resulta sempre melhor do que acharmos
que os nossos amigos não têm programas fixes, que a namorada ou o marido (provavelmente
não na mesma pessoa…) deviam ser mais pro-activos para nós termos o que
queremos. Pensem lá bem comigo sobre isto… A sério? Se nem nós próprios
trabalhamos para isso como vão os outros saber o que fazer? As bananeiras são
espectaculares para dar bananas e não para nos encostarmos a elas. Quando nós
procrastinamos a nossa própria felicidade, não será de bom-tom exigir a
qualquer outra pessoa que não o faça. Até porque ninguém nos conhece melhor do
que nós próprios. Sabemos quais os pequenos grandes momentos que nos imprimem um grande sorriso. E assim sendo, vale a pena correr por isso. A felicidade são
momentos, e se há algo que justifique este nível de exercício físico e mental, será, indubitavelmente, isto.
Resumo deste
devaneio primaveril:
- Se queremos ser felizes, há que começar a fazer isso mesmo: ser feliz (isto é mais intenso do que parece, prometo, pensem nisso).
- Os outros podem e devem fazer parte da nossa felicidade mas não ser responsáveis por isso.
- A Primavera é uma altura óptima (e tão boa como outra qualquer) para investir na nossa felicidade.
- Somos seres bem apetrechados para viver à grande (o uso dos sentidos e o apreciar a simplicidade da vida por si só costumam ter resultados garantidos).
“There is no path to happiness: happinesse is
the path.”
Gautama Buddha
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