Olá a todos!
Em dia de manifestação internacional pelos direitos e melhoria das condições de trabalho, numa união coesa de respeito por todos nós, retomamos a partilha, rumo a um nós mais realizado. Para que consigamos lutar, em amplitude, por melhores condições laborais, ajuda sentirmo-nos aptos, em todas as nossas esferas. A estabilidade e a motivação devem iniciar-se dentro de nós, nesse imenso local que nos confere energia e faculdade de operarmos sobre o que queremos e merecemos. Em dia de luta, vejamos como obter vitalidade mental e física, através da consideração até pelos nossos dias mais tortos.
Todos nós temos momentos. Momentos bons, menos bons ou até em momentos que nem conseguimos perceber como estamos. A vida é um autêntico desafio, repleto de outros tantos desafios, que nos brindam com situações delicadas, assustadoras dúvidas e espantosos sucessos ou surpresas. No quotidiano, escolhemos mais as nossas armas, do que a luta onde nos encontramos. Não pretendo dar aqui uma conotação negativa aos alcances que podemos atingir, uso estes termos no sentido de força, de empenho, de trabalho para obter o que acreditamos ou queremos. Quando nascemos, temos o desafio de aprender a ser, em adolescentes, suspeitamos se ainda nos falta aprender algo, em adultos percebemos o quanto ainda nos falta aprender e na idade avançada compreendemos que talvez possamos usar o que sabemos, de diferentes formas. A vida ajuda-nos a alcançar novas perspectivas, este é um dos super poderes que mais aprecio e valorizo no ser humano. É ele que nos leva a sentir empatia, a aproximarmo-nos dos outros e a sentirmo-nos compreendidos e mais felizes e serenos.
Uma das coisas mundanas que gosto e acho úteis, são aquelas séries sobre vidas manhosas, famílias desestruturadamente estruturadas ou ligações aparentemente difíceis. Gosto muito mais destes exemplos de vida do que aqueles em que tudo brilha e é perfeito, à la mode de um dos flagelos das redes sociais. Viver é bom, é duro, é complexo, é recompensador, é alegria, são lágrimas, é ser capaz. Já diz Neruda,
"Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige
um esforço muito maior do que o simples acto de respirar. Estejamos vivos, então!"
e, facilmente, encontramos inúmeros poetas e escritores que usam a sua arma de eleição, discorrendo sobre as vicissitudes deste acto que nos assiste a todos. Creio que os momentos incríveis, são-no, precisamente, pelo que nos levaram a empenharmo-nos para eles. Voltando às séries, é muito mais simples e gratificante assistir a vidas duras e desafiantes, podendo rir ou chorar com as atabalhoações alheias que em tudo se assemelham (e exarcerbam) às nossas, do que sentirmo-nos frustrados por sermos apenas nós que estamos com um sentimento de inadequação ou de estranheza com a vida. Tenho até alguma dificuldade em comprometer-me com um verbo para estes momentos, daí que tenha achado muito pertinente descobrir, numa série, a seguinte música e coreografia. Foi usada por uma mãe, irmãs e avó, para presentearem uma jovem que termina um ciclo, celebrando e retratando a dureza, comprometimento, coragem e resiliência das suas vidas. Simularam, o que depois descobri, é a música ideal para percebermos que este sentimento é geral e para nos aninharmos na aceitação de que é essencial batalhar pelo que queremos, cremos e desejamos mas também para respeitar que há momentos em que nos sentimos, simplesmente, tilted, ou como a nossa língua melodiosa o diz, inclinados, com a vida.
A autora, Heloise Lettissier, mais conhecida por Christine and the Queens. explica que esta música representa "o sentimento de se sentir fora do lugar, sem conseguir encontrar um equilíbrio ou mesmo sentir-se deprimido, contudo com imagens lúdicas, com um melodia à qual se pode dançar". Refere também que a ambivalência é deliberada "estarei a falar sobre cair? Sobre sentir a mente retorcida? É algo divertido ou perigoso? É preciso povoar a música com o próprio humor (...) É uma música fácil sobre um conteúdo difícil". Além da melodia pop e ligeira, foram as suas palavras e o seu significado profundo me fez partilhá-la e associar ao que falámos acima.
Quando conseguimos rir-nos de algo muito difícil por que passamos,
vencemos mais um bocadinho: humor: 1 - angústia: 0.
Nos momentos em que nos sentimos desequilibrados, importa conseguirmos começar por dois pilares: aceitar e aligeirar, sendo que creio que um está dentro do outro. Lá porque tudo à nossa volta nos parece perfeitamente organizado, de sorriso estampado e com o futuro planeado, isso não significa que seja mesmo assim, logo, que somos os únicos a sentirmo-nos desta forma. Esta partilha tem esse objectivo, desmistificar a perfeição das vidas alheias e respeitar a sensação de inadequação da nossa. Naturalmente, que não advogo a alegria com a desgraça alheia, pelo contrário. Contudo, acreditar que todos estão melhores do que nós, tem o condão de nos pesar mais ainda no nosso mal-estar e, consequentemente, bloquear-nos nas acções a tomar.
Assim, sugiro que respeitemos que, sem excepção, todos passamos por múltiplos humores e fases, melhores e menos bons, e que essa compreensão facilite o acto de fazer as pazes com a nossa fragilidade. É urgente que trabalhemos diariamente pela melhoria da nossa qualidade de vida, em todos os níveis. A isto complementa-se que é igualmente urgente observar com carinho e ser tolerante pelos momentos confusos por que passamos. Ao não nos sentirmos em miséria solitária e ao honrarmos as nossas necessidades, o aligeirar dessa angústia será um ponto que surgirá organicamente. Tal como a clarificação do caminho que desejarmos percorrer a partir daí. Eu diria que vale a pena o esforço, se não surtir diferença, será um bocadinho como o melhoral: não faz bem, mas também não faz mal. Se, efectivamente, a auto-exigência e a auto-crítica em demasia derem lugar a um encolher de ombros que nos confortará e desbloqueie, garantidamente sairemos desse lugar bem mais celeremente e tranquilos.
"A vida vai torta
Jamais se endireita
O azar persegue
E esconde-se à espreita
Nunca dei um passo
Que fosse o correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo
(...)"
Circo de Feras,
Xutos e Pontapés
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