Olá a todos!
O mundo existe, hoje em dia, a uma velocidade estonteante, com todas as ferramentas e actividades que temos disponíveis. Temos de parar e de fazer um esforço real se pretendermos saltar fora deste carrossel hiperactivo e ter um momento de calma. Já para termos um momento de paz interior, temos de fazer mais do que isso.
Vi, recentemente, um documentário que venho hoje sugerir que vejam: o InnSaei! É uma hora do vosso tempo que, bem interpretada, valerá como muito mais horas de tempo de qualidade com vocês mesmos e com as pessoas que vos rodeiam.
É a história de uma pessoa que se esgota num quotidiano vivido em piloto automático, sempre seguindo a lógica e a racionalidade de uma vida activa de trabalho. Interrompendo-se este ciclo de forma abrupta e forçosa, opta por descobrir como entrou em burn out, percebendo que vivemos submersos no mundo que criamos, em vez de atentarmos no mundo à nossa volta. Não usufruímos de experiências sensoriais, apenas de comandos seguidos uns aos outros, e, na busca incessante de prazer, anulamos a possibilidade de isso acontecer em pleno.
Com esta viagem, irão descobrir mais ainda porque que é que o nosso cérebro é tão fantástico e de que modo é que nos indica como agir em qualquer situação, pela mão de crianças de 8 anos. Perceber que o nosso hemisfério direito é responsável pela nossa criatividade e por grandes ideias, bem como pela intuição e sensibilidade. Por exemplo, compreendemos que, em caso de lesão cerebral do lado esquerdo, mantendo o hemisfério direito intacto, sofreremos muito pela nossa perda enquanto que o contrário não é válido. Uma lesão ao nosso hemisfério direito faz com que não tenhamos percepção de sofrimento com a nossa perda. Aqui vemos a relevância deste hemisfério, ao nível emocional. Sei que sou suspeita, mas estes funcionamentos maravilham-me!
Dentro da perfeição e da complexidade do nosso cérebro,
a gigantesca maioria do que se passa é inconsciente, sem termos noção de que tal sucede.
Aproximadamente 98% da nossa massa cerebral não usa linguagem, lógica ou estratégias, apenas as criam para que os outros 2% lhes possam aceder e usar. A inteligência é um conceito muito rico e completo, envolvendo diversos tipos e variedades, sendo que a mais recente que conhecemos é a inteligência sensorial, através da qual é suposto ganharmos mais consciência, de forma a termos mais informação que possamos interpretar e ao nosso dispor. Neste documentário, ficamos a conhecer a história dos navegadores Polinésios que conseguiram, simplesmente em pequenas canoas, descobrir centenas de quilómetros, mapeando oceanos desconhecidos, apenas com a intuição, lendo o mar, as nuvens e as estrelas. Esta realidade, super atenta e focada, choca com o quanto desconhecemos sequer a cor de todos os prédios da rua em que vivemos (se duvidam, vão dar uma caminhada e olhem para cima) ou com o conhecer os sinais na cara das pessoas que amamos.
InnSaei é uma palavra islandesa que significa intuição,
para além de vários outros significados, todos eles exemplificando esta visão interna,
o usar o nosso interior para apreender o que nos rodeia, externamente.
No fundo, advoga que nos conheçamos interiormente, bem o suficiente para podermos por-nos na pele do outro, de forma a sermos o melhor de nós mesmos. É uma forma de trazer claridade ao olhar o mundo. Cerca de 95% a 99% dos nossos pensamentos e do nosso processamento cerebral é inconsciente e é partindo daí que o nosso cérebro lento e consciente actuará. Tendo esta percepção, não dá muito mais vontade não apenas de aumentar o espectro de consciência, mas de conhecer tudo o que se processa dentro de nós e ao qual não conseguimos aceder? A verdade é que andarmos adormecidos, simplesmente agindo tarefa atrás de tarefa, entupindo os nossos sentidos com actividades e comportamentos que nos deixam dormentes, faz com que não consigamos usufruir da beleza, estética, sensação de bem-estar, prazer, sabor, sons e toques que nos rodeiam, que fazem parte do mundo do qual fazemos parte, mas do qual nos distanciamos, dia após dia. Aqui é proposto que fique em contacto consigo mesmo e com a natureza, com o que nos rodeia, com o sol e a chuva, as árvores e as plantes, a água e o calor. Aprender a recontactar com a natureza, com o que nos dá origem, respeitando-o, para nos conhecermos muito melhor e sermos, desta forma, mais produtivos e felizes. Uma semana de 100 horas de trabalho não nos trará eficácia, mas um quotidiano em que sabemos onde estamos, quem somos, o que desejamos, talvez nos encaminhe nesse percurso. Adormecer os sentidos apenas deita um manto de confusão sobre os nossos objectivos e intenções.
A intuição é como uma lente que nos permite ver
com mais luminosidade, atenção e conhecimento.
O nosso cérebro está constantemente a evoluir com as nossas experiências, comportamentos e sentimentos. Daí que seja essencial que consigamos ampliar o leque de estímulos a que nos sujeitamos, em vez de nos enterrarmos na tecnologia ou no marasmo de um dia-a-dia repetido e pobre. A felicidade provém da forma como sentimos e vivemos o mundo e não das coisas que possuímos ou que desejamos fazer. Não fará sentido viver com noção do que conhecemos, ser gratos pelo que temos e, diariamente, explorar novos cenários que nos alimentem a alma? A intuição é a percepção das coisas subtis que estão fora do foco da nossa atenção, pormenores esses que podem ser determinantes para que o nosso estado seja de calma, de paz, de tranquilidade e de enriquecimento constante do mundo que habitamos e, por conseguinte, de nós próprios. Por vezes, o ruído externo é tanto, vivemos submersos em tanto barulho, opcional e obrigatoriamente, que isso está a silenciar a nossa voz interna, não somos capazes de nos ouvir.
No InnSaei fala-se, ainda, da performance artística de Marina Abramovic, que, no MoMa, expôs-se a ela mesma. The Artist is Present consistia em sentar-se durante um minuto, em frente de Marina Abramovic, simplesmente olhando um para o outro. Esta experiência, onde não se podia falar, apenas sentir e usar linguagem não verbal, fazia com que apenas conseguisse escapar-se para dentro de si mesmo. Este conceito pode ser assustador, esta consciencialização de olhar o outro, meta-comunicando e ouvindo, exclusivamente, a nossa própria voz interna. Creio que a principal razão disto ser aterrador é por andarmos ligados a tudo, menos a nós próprios. A autora esteve cerca de 736 horas a conectar-se com estranhos, nesta exposição que falava da sua própria vida. Abramovic diz-nos, no documentário, que, a nossa primeira regra deve ser ir para o desconhecido, desbravando novos rumos e saindo da nossa zona de conforto. Apenas assim conseguiremos evoluir. E como a vida tem destas coisas e a própria autora se expôs, espreitem aqui um pormenor delicioso de interacção humana, que acabou por ser uma surpresa para Abramovic. Claro que, arriscando o que não conhecemos, aumentamos o risco de não ser bem sucedidos. E daí que também nos seja dito, nesta viagem, que devemos preparar-nos para falhar, podendo assim libertar-nos para descobrir e, novamente, crescer, avançar.
InnSaei mostra-nos que podemos ter muitos incentivos externos mas nada se equipara à biblioteca que temos disponível dentro de nós. Ficamos a saber, também, que a melhor forma de sermos bem sucedidos, em todos os níveis, é sabermos olhar para dentro e sentirmo-nos confortáveis connosco próprios. Esta aprendizagem deve começar desde que somos crianças e acompanhar-nos toda a vida, será a melhor forma de sermos intuitivamente felizes, de dentro para fora.
Se estas palavras vos tiverem aberto o apetite para descobrirem mais sobre InnSaei e sobre vocês mesmos, fica a apresentação do documentário que pode ser encontrado online e através da Netflix:
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